Tudo o que nos cerca
Você sabe o que realmente significa meio ambiente? Este texto explora um aspecto sempre presente nas definições: a relação do homem com a natureza.
MEIO AMBIENTE


A Lei nº 6.938/1981 apresenta o termo "meio ambiente" com a seguinte redação: “O conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.” Na norma ISO 14001:2004, a definição dada é: “Circunvizinhança em que uma organização opera, incluindo-se ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna, seres humanos e suas inter-relações.” De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU) se trata do “Conjunto de elementos físicos, químicos, biológicos e sociais que podem causar efeitos diretos ou indiretos sobre os seres vivos e as atividades humanas”. Há ainda outras diversas definições que fazem referência a fauna, flora, ecossistemas e recursos naturais.
Algo comum nessas e em tantas outras definições é o estabelecimento de significados abrangentes, visando captar a relação entre os seres vivos e a realidade material circundante. Ou seja, o meio ambiente acaba por englobar a vida em todas as suas formas, o solo, o ar, os rios, lagos, oceanos, geleiras, vegetação, clima, entre outros. Do ponto de vista humano, pode-se dizer que é sobre nós e tudo o que nos cerca. Este é um ponto de partida importante para uma reflexão sobre a forma como lidamos com as questões ambientais atualmente.
Para a vida humana, a compreensão daquilo que nos cerca determina a maneira como agimos e reagimos ao universo. Os sentidos (tato, olfato, paladar, audição e visão) captam informações, e criamos interpretações com base nelas. Para os primeiros Homo sapiens, as forças da natureza eram incompreensíveis, e a busca pela sobrevivência moldou a relação com elas. No desenrolar da história, as culturas desenvolveram interpretações mais elaboradas do mundo, mas um número imenso de práticas, saberes, mitos e deuses manteve um intenso apelo à dimensão natural, muitas vezes entendida como uma extensão do mundo espiritual.
Porém, o advento da modernidade, a partir do século XVI, trouxe consigo a agenda de emancipação do ser humano diante da natureza. Ela passou a adquirir um caráter inerte, desprovida do status divino de contemplação e respeito. Ao reduzi-la a uma mera ferramenta para o progresso, pouco a pouco passamos a enxergá-la à distância, como um objeto manipulável ao bel-prazer do consumismo e da ganância.
Passados alguns séculos, fincamos bandeiras na lua, criamos satélites, inventamos a internet e demos início à era das inteligências artificiais altamente funcionais. Entretanto, o descolamento real não aconteceu: continuamos dependentes da natureza. Aquilo que nos cerca permanece exatamente onde sempre esteve, obedecendo às mesmas leis físicas e biológicas. Na prática, o único descolamento ocorrido foi mental, gerando uma percepção ambiental distante e incompatível com a sustentabilidade, que se desdobra em ações danosas ao meio ambiente, culminando em eventos críticos.
Por isso, a reconexão com o natural, de respeito e conservação, torna-se um caminho indispensável para mudanças efetivas. Cabe ressaltar que a mudança comportamental não deve ser encarada apenas com caráter punitivo e repressivo — ainda que necessário em situações de descumprimento das legislações —, mas também com a apresentação de exemplos de relações mais adequadas entre o homem e a natureza. Nesse sentido, o papel da educação e da divulgação científica é crucial para gerar (ou resgatar) uma cosmovisão equilibrada entre as demandas sociais, econômicas e ambientais, capaz de dar frutos.
Se, no campo teórico, já existe a compreensão de que o meio ambiente é tudo o que nos cerca, falta-nos mais aplicação por meio das atitudes. O lixo, despretensiosamente jogado na calçada, é o mesmo que entope tubulações e bocas de lobo do sistema de drenagem, causando alagamentos. O esgoto, levado para longe das casas e indústrias sem o devido tratamento, é responsável pela morte de muitas espécies aquáticas e pela contaminação da água que, depois, precisaremos para suprir nossas necessidades. As queimadas “escondidas” contribuem para o agravamento de doenças respiratórias durante a estiagem, e o desmatamento ilegal favorece a degradação do solo, prejudicando diversos mecanismos naturais.
Entender essas relações permitirá enxergar “tudo o que nos cerca” com mais clareza e buscar modelos de vida compatíveis com a capacidade de assimilação do planeta.